Carta de Fanny Abramovich

Por ocasião do encontro "Sylvia sempre supreendente", Fanny Abramovich preparou uma carta endereçada à homenageada, que, lamentavelmente, não foi lida durante o encontro, por artimanhas da internet...
Mas aqui está a carta, a homenagem e nossa gratidão à Fanny que se mostrou uma parceira importantíssima na construção deste encontro.
Abraço, Fanny!
E, olha, acho mesmo que foi a Sylvia que inteceptou a carta dia 18, para que suas palavras, mais do que ouvidas, pudessem vir morar aqui na internet, para ser lida por muito mais fãs - de vocês duas!

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HOMENAGEM - EM DUQUE DE CAXIAS – 18/5/2010 –
PARA SYLVIA ORTHOF
(Por Fanny Abramovich)


Sylvia querida,

Há dias e noites que tento te achar... Fracasso total. A Nora Ney e eu... Lembra do samba canção?!?! Arrastação de dor de cotovelo brava... Será que você entoava com teu amiguinho de infância e de primeiros passos no teatro...?!
Herr Paulo Francis?!?!
Hilário demais só de imaginar...

Nem tenta disfarçar... Sei que está gargalhando, mas alucinada pra saber: O que foi que sucedeu de muitíssimo maravilhoso!!!!! E com quem???? Que você precisa saber... já!!!! Posso sentir você curiosando, ligando o seu cineminha cabeçal e projetando maravilhanças acontecendo com desconhecidos enamorados de sereias; com chatos conhecidos, quando andando de cabeça para baixo ou apanhados por tentáculos de polvos; e mais 333 histórias que, num estalar de dedos da mão esquerda, você já teria inventado...
Só que está tendo um siricotico!
Urgência de saber rapidinho porque andei te procurando tanto...

Ah, passei e-mail pro Tato e pro Sálvio, teus dois maridos... Resposta automática: "Pescaria com Noé sem a arca e Jó, saído da baleia por dentro de peixes marítimos"...
Recadei pra D. Maude, tua amada avó. Ocupadíssima, fazendo tortas pruma festa austríaca. Homenagem prum tal de Freud, pra ela só Sigmud: "Estranho. Um homem serio e ligadão no seu sofá...”
Ficou muito prosa com o convite pra participar dos preparativos desta festa–festival–festividade!!!
Ela, Maude, fazendo strudels derretentes do lado de Mozart e suas perucas, selecionando músicas e maestrando orquestras... E, vendo o Strauss em pessoa, ensaiando o sinal pra iniciar e continuar valsando, pelos luxuosos salões espelhados, usando traje a rigor...Que charme chique !!!!!!!!!
Atrás das câmaras, o cineasta Billy Wilder, austríacos famosos, e ela, Maude do Catete, junto!!!! Inacreditável...
Ai, choraminga explicando: "Só minha neta, a escritora e mulher de teatro, a Sylvia Orthof, é quem, de cara, pode sacar que tudo isso é verdade!!!! Posso até ver ela gabolando, contado vantagem, muito orgulhosa da velha avó!!!!! E sair por ai e mais pra lá, explicando, a torto e a direito que mistura mais misturada de
festival-festa-homenagem era essa".


Calma, Sylvia.
Sei que você mora no céu, mas foi um inferno tentar te achar, desta vez... Quem procurei, sentia sua falta, mas não tinha ideia do seu paradeiro nos últimos dias... Suspirei, me enchi e estava desistindo de recadar... Chateada porque recado de Hellenice, boa pessoa e nada amolante. Dobrei uma esquina e trombei com o anjinho da asa quebrada, a maior das galantezas, habitante do Sítio do Picapau Amarelo... Fiquei tomada de encantamento. Parei imóvel tipo estátua e olhei aquela formosura que a Emília trouxe do Céu... Muda, mudinha.
Demorou, a garra voltou.
Gaguejei perguntando se viu a Sylvia.
O anjinho contou, devagarando e apressando, misturando momentos, que... encontrou na bancada de pastéis Paraíso Tropical, com uma professora de grego e aramaico, Mme J. Grecco. Os dois, sem se ver há séculos (séculos propriamente ditos ...). Foi sentar, se atirar numa bandeja de pasteis de vento bem sequinhos, bebericar Grapete, um néctar adocicado, e trocar novidades. Mme Juliette Grecco, chegava da Ilha Penélope, onde fez uma oficina de macramé, orientada por Sylvia Orthof.
Entusiasmada relatou como foi divertido e diferente de qualquer aula que assistiu – qualquer dia - na terra, no céu, na sua temporada no limbo... Encontrar uma agulha à altura do macramé, demandava horas de atenta e despreconceituosa vasculhação, (contou Mme Grecco, que Sylvia incentivava a andar, engatinhar, pular, abaixar, subir em escadas, saltar degraus,etc...) a colocar a linha exatamente na cor e tonalidade sonhada outras... Isto alcançado, os oficineiros oficiavam uma cerimônia improvisada, agradecendo suas conquistas e dádidas com cantorias, separavam e preparavam oferendas que depositavam onde cada um acreditava ser melhor, mas sempre dançando... Mais tarde, altas comilanças... E, volta as agulhas e linhas, perseguindo pontos perfeitos...

Interrompi o relato de Mme J.Grecco através da mimosura do anjinho, sorri meio torto pra galanteza falante e dei um berro em direção ao céu:
- Sylvia, você sumiu por umas três semanas para ministrar um curso de macramé ????
- Claro!!!! E adorei!!! Já assinei contrato pra voltar no próximo ano... Estou bolando uns bordados mui incrementados... Quero dar uma oficina exclusiva para freiras...!!!! Um velho projeto: Melhorar o hábito das irmãs... Quebrar o hábito de usar cinza, sempre neutras. Estou pensando num vestido mais habilée, com corte e com cor. Com charme também. Faço fé que vai dar certo !!!!
- Ai, Sylvia...Vestidos charmosos pra freiras ???? Onde é que elas irão vestidas assim???
- Onde iriam de hábito??? Agora, porque tanta pressa pra me localizar ?? Recadito de quem??? Feitio de oração pra quem??? E em ritmo de urgência urgentíssima???????
- Senta, respira fundo, se acalma. Relaxa. Outra vez... Vou te contar uma gostosura, que ficou com cara de urgência, porque deu chabu pra te achar, mme Macramé...

Bem, hoje, dia 18 de maio... deste ano de 2010, lá em Duque de Caxias, juntou gente apaixonada por você e daqui há pouquinho começa uma baita homenagem...Veja você: em Duque de Caxias!!! Num lugar com estátuas de militar, professoras descobriram as maravilhanças da transgressão. Largaram o “marcha soldado “ e ficam lendo ou ouvindo (os pequerruchos) A VELHOTA CAMBALHOTA!!!! Em Duque de Caxias, o mundo volta ao seu lugar. Mutável, mutante, mudador...!!!

Coloquei 007 e 008 na cola da Hellenice , ao que me consta a organizadora maior, primeira, dum envolvimento comovente e que foi completando as leituras dos seus livros neste tempo, se abrindo numa porosidade sôfrega... Ah, ela leu O FANTASMA TRAVESTI... Boniteza a fome sylvesca dela!!!! Doce e terna ao falar do seu sorriso que só conheceu no vídeo...

Bem, há meses que a Hellenice e a galera dela (que não conheço...) não falam, não pensam, não respiram, não se interessam por outra escritora... Mas com você, ninguém nunca fica apenas nas letras e se dá por satisfeito. Como todos, suponho, seguem teus rabiscos, depois tuas histórias que viraram lendas, teu teatro, teus poemas, teus objetos, teus cartões de Natal... Eu mesma, recebi da referida mocinha organizadora, uma noite, um e-mail declaratório: ela passara os dias costurando, bordando, agulhando cositas à Sylvia e nunca pensara que pudesse sentir tamanho prazer...
Me contam que pelas escolas municipais da cidade, só se lê livros da Sylvia... Não me dizem, mas posso imaginar como a cidade ficou alegre, feliz... como se dá risada e se bate palmas de contenteza, por tantas surpresas que não se cansam de sair das paginas!!!!!!!!!

Ah, sabe como se chama esta comemoração?? Esta primeira homenagem oficial da Secretaria Municipal de Educação ??
Sylvia sempre surpreendente.
Já que não conseguiram a grana pra me levar, surrupiaram o título do meu livro... Fui incorporada ao evento, via transgressão.(provavelmente pediram autorização eu mais do que provavelmente, se isso aconteceu, concordei).
Mas, foi transgressão... O que eu aplaudo e sei que você também já sorriu maroto!!!
Sylvia querida, rápido... Passe um pente no cabelo que esta desgrenhada...é, pro que é, é inaceitável! Aproveite e passe seu batonzinho,que curte tanto... Acho que vai ter que ir com este camisolão mesmo, não vai dar pra trocar de roupa... Ah! pegue um lenço. Não, uma caixa de lenço de papel. Das de 50 ou 75 folhas... Te conheço e sei que vai lacrimar, chorar de mansinho, nem tão discretamente e... depois, dependendo das acontecências... Aposto no choro chorado, molhado, com nariz fungando e olhos diluviando...

Adiantando... vai começar com crianças do pré cantando canções das suas peças... que te parece ??????? Vai ter leitura de seus poemas e histórias (e até se ouvir a primeiríssima publicada, a MARIA VAI COM AS OUTRAS ).
A Benita vai palestrar e contar uma história e estou louca pra ver o que é que ela vai enfocar, angular, retirar, etc... Vai ter comes e bebes e petitinhos duma creche da cidade vão apresentar A VIAGEM DO BARQUINHO (é sua peça mais conhecida, não ??? A primeira vez que assisti , o Gê me disse que ele é que interpretava o barquinho... E também foi a primeira vez que nos proseamos... E eu resolvi que queria ter sua cabeça emprestada por 5 minutos que fosse, pra ver o mundo de outro jeito...).

Sylvia, dá pro 'cê enxergar direito daí?!? Fique de olho: que daqui instantes, pelo meu relógio, vão começar a entrar as 250 professoras – dinamizadoras de leitura e as 40 bibliotecárias... que estão sorvendo seus textos e rabiscos, suas ideias, sua cabeça única, seu humor desfolegante... No final do período, vão também estar em estado de graça, porque passaram uma manhã ou uma tarde divinal contigo ou por tua conta... E estão apaixonadas pelo seu jeito de ser. Não tem como não estar!
Fica ai pertinho pra olhar tudo isso...
Beijos e dê mais notícias... Você anda muito sumida... por conta de oficina de macramé, não acredito...
Morro de sentir sua falta.

Fanny