Então, hoje deixei nascer o ponto final na histórias abaixo. Um devaneio sobre a fada Orthof visitando minha terra e tecendo suas peraltagens.
Quem não é de Duque de Caxias sentirá, talvez, falta de referências, mas de certo compreenderá que o texto nasceu mesmo para morar por aqui...
(Na cidade... E na internet!)
Vamos a ele:
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Uma "Duque de Caxias" de Orthófias histórias
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Sei lá de que jeito, eu vi o cavalo de Duque de Caxias solto, comendo capinzinho tranquilamente, com as libélulas voando ao redor dele, mais tranquilas ainda.
Endoidei!
Há anos que o Duque empunha sua espada, montado neste cavalo, na entrada de cidade. O que teria acontecido?
Cheguei pro cavalo e perguntei, mas ele só fez me dizer que o capim estava bem gostozinho e que a cidade estava bem cuidada...
Até aí, morreu Neves!
Peguei o caminho da roça, sendo que fui pelo Centro mesmo. Andei pela Avenida Brigadeiro Lima e Silva, aonde o avô do Duque ressonava na cadeira de balanço, procurando alguém a quem eu pudesse perguntar.
Aos carros não adiantava, porque estavam com pressa. Aos pedestres menos ainda, porque com o calor, além da pressa, as pessoas só querem saber do caminho de casa, ar condicionado e coca-cola gelada. Quem não tem nada disso sonha! E aí também não vêem mais nada além do sonho...
Nesse procura-que-procura, fui andando até a Praça Roberto Silveira, onde o pobre ex-governador só tinha voz pra dizer do quanto que estava cansado de ficar décadas na mesma posição. Já vão quase vinte anos que o moveram dali e quando pensou que enfim fosse pra um gabinete, só o colocaram mais pra trás na praça, e de costas pra Prefeitura! Agora, ainda por cima, ele ainda tinha que aguentar a obra do museu da ciência.
Eu já ia embora, porque afinal gosto da ideia de termos um museu no Centro da cidade. Ainda mais este, onde haverá, inclusive, uma galeria de artes! Não é o máximo?! De mais a mais, a intolerância do ex-governador era descabida, não existe obra sem barulho, né?! É como diz o ditado “não se pode fazer omeletes sem quebrar os ovos”, ora essa!
Bem, eu já ia saindo quando ouvi o ex-governador falar que os dois tinham corrido dali e chapinhado o corpo todo no chafariz!
- Eles quem? - perguntei curiosa.
- Quem?! Quem?! Ora, o Duque! Largou o cavalo e agora corre cidade afora ao lado de uma gordinha gargalhante, com cabelos cacheados que pula mais que perereca. Ops! Desculpe-me, senhora. É que a tal pula muito mesmo! É uma inquieta, e junto com esse barulho de obra, eu enlouqueço! En-lou-que-ço!
Larguei o Roberto Silveira, que longe de mim voltou a ficar quieto, e fui descendo o Viaduto, quando vi o prefeito ajeitando sua última gargalhada, na porta da Câmara Municipal, acompanhado por todos da Secretaria de Educação, que ouviam histórias da Equipe de Leitura. O pessoal estava cheio de livros nas mãos. Uma maravilha! E a roupa deles estava cheia de ilustrações, ainda cheirando a tinta fresca!
Ai, que enlouqueço!
Quando eles viram que eu estava olhando, atravessaram a rua e começaram a me contar histórias também!!!!!
Aí eu me belisquei... Mas eu estava mesmo acordada, gente!
Ouvi umas boas histórias, pedi licença e continuei minha busca.
No final do Viaduto vi que o chafariz estava todo colorido! E ainda tinha um canteiro cheinho de flores. Lindo! Rodeava todo chafariz e seguia ladeando as palmeiras imperiais pela Avenida Presidente Kennedy afora...
Nessa hora ouvi o trem barulhar, rumando para Saracuruna.
Gente! O Duque de Caxias estava sentado em cima do trem! Bem lá no alto, jogando Santa Maria (tem gente que chama de cinco pedrinhas) com ela: SYLVIA ORTHOF!
Ela me olhou, riu e disse:
- Catei essas pedras lá em Xerém, nas ruínas da Igreja de Santa Rita. Vem brincar com a gente! Sobe aqui.
Na mesma hora eu me acriancei! Voei quem nem um balão de gás e parei do lado deles.
O Duque estava bem mais moço e renovado. Sem guerra nos olhos, nem luta nas mãos. Ele todo tinha se acriançado também... E brincavam...
Depois de um tempo, ele desceu do trem num Rabanete e foi andando, tirando o bem-me-quer, de Campos Elíseos até a entrada da cidade, onde seu cavalo cochilava no colo de uma borboleta azul.
Eu continuei no trem, ao lado dela... Sylvia Orthof...
(Eu achava que ela era baixinha, gente! Mas era um mulherão! Altona. Um anjo baobá!).
- Epa! Gorda não, eu sou é fofa! – reclamou a Sylvia ouvindo a cor dos meus pensamentos.
Foi a única vez que ela falou. A gente se comunicava por meio de outros sentidos... Às vezes sem sentido, como ela bem sabe ser (e eu sou, vez em quando, sem querer).
Errei todas as jogadas das cinco pedrinhas, até cansar as bochechas de tanto rir! Então, descemos do trem voando e fomos até Xerém, onde tomei fôlego pra continuar a Viagem...
A fada Orthof ia escrevendo poemas dentro de mim. Alguns me faziam cócegas. Outros me fizeram chorar...
Até que chegou a hora dela voltar pra casa.
Então, retornamos ao primeiro distrito da cidade num piscar de olhos.
No meio do caminho não tinha uma pedra, não, mas tinha: Fada Cisco Quase Nada; Tia Libória contando histórias pro meu avô Libório (que saudades, Vô!); tinha Mozart e suas perucas surfando num violino pra não perder o ensaio da Acadêmicos do Grande Rio (Alô, Nação Caxiense, a hora é eeeeeessa!!!!); e, eu juro, vi a ovelha Maria ensinando conterrâneo meu a não-ir-com-os-outros!!
Quando chegamos à Catedral de Santo Antônio, Xangô pegou sua espada (que na verdade era uma machadinha) e tornou Sylvia Orthof a padroeira das histórias amalucadas. Obá, Oxum e Iansã – a preferida de Xangô – dançaram perfumando todo ambiente de amarelo (será que a Sylvia também é filha de Oxum?!).
Os Orixás foram embora e nós duas nos abraçamos longamente.
Ela me disse pra eu cuidar bem da minha Adolescente Poesia, e eu pedi a ela que me abençoasse... Afinal ela foi mãe de tantos filhos e histórias... Pedi pra ela abençoar também as ideias e ideais da minha gente. Essa gente sudeste-nordestina que compõe minha terra.
Ela disse pra gente não esquecer de ouvir os pardais!
Era hora do sol ir dormir... Olhei pro alto e vi Francisco Barbosa Leite, junto com o de Assis, regendo o coral de pardaizinhos, que cantavam o poema de exaltação à Caxias, que ele escreveu...
Sylvia, piscando o olho, voltou-se para a entrada da Igreja e acompanhou todos os anjinhos do altar-mor que vieram buscá-la (o da Velhota Cambalhota estava junto!). E seguiram... Na maior Ave, Alegria!
Eu fiquei parada um bom tempo... Olhando... Orthofiando essa história pra tecer nessas linhas, as memórias disso tudo o que vivi...
Vivi?!
Isso não importa.
O certo é que Duque de Caxias nunca mais será o mesmo. A mesma.
Não é, Ziriguidum?
Hellenice Ferreira
26 de Maio de 2010
Uma noite de lua cheia!